sábado, 30 de março de 2013

As Cidades Plurais


"Quão complexos universos constituem-se as cidades! Ambientes plurais, territórios em que homens e mulheres constroem seus espaços de sociabilidade e vivências. Lugares de construção de sonhos, onde são travadas lutas, conflitos físicos e ideológicos, onde os seres pensantes se impõem como tais, onde a beleza ganha padrão, onde leis regulam a 
vida de seus indivíduos, onde a arte encontrou mais uma morada, lugar em que residem lado a lado a riqueza e a pobreza. Cidades, palco de guerras, de construções imponentes, da modernidade, da vida e da morte, lugar de coletividade, mas também de individualidades, ambiente em que ruas cinzentas tornam-se coloridas, aos olhos de seus atores, e onde os corpos destes, transformam-se incansavelmente. Este complexo mundo social, em que os gêneros se inter-relacionam, onde cada monumento, igreja, hotel, porto, casa, edifício, mercado, praça, clube, ponte, cinema, loja, avenida, cada signo construído pelas mãos humanas, cada emblema místico que acompanha estes espaços, conta-nos histórias que atravessam tempos, gerações, que traduzem sentimentos e testemunham as redefinições dos aspectos sociais dos que os rodeiam."


Trecho de MELO, Alexandre Vieira da Silva. A Cidade dos Melindres: Corpo Glamour e sociabilidades no Recife da década de 1920. [Monografia] Recife: Universidade Federal Rural de Pernambuco, 2012

sábado, 26 de janeiro de 2013

[Dica de Leitura] Os Anos 1920: Histórias de um Tempo

Os Anos 1920: Histórias de um Tempo
Editora Universitária - UFPE

Olá, meus caros  leitores e leitoras! Venho por esta postagem justificar minha ausência, estou de férias. Minhas pesquisas serão retomadas logo em breve, e junto a elas, novas curiosidades sobre os maravilhosos anos 1920. Como indicação para estes dias de repouso em pesquisas, deixo o novíssimo livro Os Anos 1920: Histórias de Um Tempo, dos professores Natália Barros, Antônio Paulo Rezende e Jaílson Pereira da Silva lançado pela Editora Universitária da UFPE -Recife.Trata-se de uma coletânea de artigos que perpassam a cidade e suas histórias dentro deste recorte temporal. Claro, já adquiri o meu e iniciei a leitura. Deixo então como recomendação aos interessados essa dica.



Abraços fraternos e até a próxima!!

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Cinemas recifenses nos anos 1920



As salas de cinema em Recife, nos anos 1920, eram bastante visitadas, principalmente pela camada média urbana, apesar de também frequentarem estes ambientes as pessoas de outros estratos sociais. Com a entrada a baixo custo, e diversão garantida, estas salas de cinema configuravam-se em signos do anseio por alcançar-se a vida moderna. Segundo Raimundo Arrais, o cinema contribuiu para mudar hábitos da sociedade recifense, tal como o de dormir antes das nove da noite, além do que, uniam-se em um mesmo espaço, pessoas das camadas médias com pessoas da camada mais baixa. Com seções vespertinas e noturnas, a cidade foi tomada pelas muitas salas de projeção, que iam das pequenas e efêmeras, até as mais modernas e duradouras. Entre 1909 até o final dos anos 1920 foram mais de 50 salas na cidade.[1] Três cinemas funcionavam na Rua Nova: O Pathé, inaugurado primeiro, em 1909; o Royal, alguns meses depois e por fim o Vitória, que segundo Sette, era voltado para “o pessoal de segunda”[2] a concorrência entre eles era forte, e não eram poucos os frequentadores e frequentadoras das movimentadas salas, tantos que aglomeravam-se às portas para poderem comprar um bilhete que dava acesso ao fantástico mundo da fantasia. Mais uma vez, o cronista Mário Sette testemunha a euforia que se sentia ao passar na frente do Cine Pathé:

Convidativo, confortável, vistoso, tipo dos do Rio de Janeiro, Êxito formidável. Revolucionou o Recife inteiro. Quer nas vésperas, quer à noite cheiíssimo. As calçadas ficavam tomadas e os bondes passavam a custo. Comprar um bilhete significava uma vitória.[3]



[1] COUCEIRO, Sylvia. Costa. Artes de Viver a Cidade: Conflitos e convivências nos Espaços de Diversão e Prazer do Recife nos Anos 1920. [tese] Recife, Universidade Federal Rural de Pernambuco, 2003. p 88
[2] SETTE, Mário. Maxambombas e Maracatus. Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1981, p 110
[3] SETTE, Mário. Maxambombas e Maracatus. Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1981. p110

* Imagem da Rua Nova e os seus três cinemas mais importantes - Fonte: FUNDAJ (Recife)

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Revista(ndo) uma Cidade...

Dentre os mais diversos tipos de periódicos que circularam nas primeiras décadas do século XX, se destacam as revistas de variedades. Elas marcam os chamados “tempos eufóricos”. Eram publicações que continham artigos, ensaios, poemas, e contos originais sobre qualquer assunto, diferindo-se dos jornais, tanto pelo acabamento, possuindo capa trabalhada, quanto por objetivar melhor os temas principais de seu conteúdo característico, e também se diferem dos livros, principalmente por sua efemeridade. Na Recife dos anos 1920, circularam muitas destas revistas, voltadas aos mais diversos públicos, tal como a Revista da Cidade, a Rua Nova e, durante dez anos, A Pilhéria, um semanário que já nasceu como o desejo de ser moderno. Estas revistas oscilavam entre 15 e 35 páginas, e tratavam das chamadas “mundanindades”, contendo em suas páginas o humor, poesias, notícias, moda e beleza, etiqueta, seção de cartas do leitor, notícias esportivas, arte, cinema e teatro, e (muitas) propagandas. A publicidade ganhou as páginas dos periódicos, destacando-se principalmente nas revistas com o advento da fotografia. Das páginas destes periódiocs, as melindrosas copiavam tendencias, modelos de roupas e modos de comportamento escritos em suas colunas. Estas publicações eram verdadeiras "biblias da modernidade", e hoje constituem-se em fontes riquíssimas para a historiografia.

Alexandre Melo


Para conhecer mais sobre os periódicos e a história:
LUCA, Tania Regina de. História dos, nos e por meio dos periódicos. In:PINSKY, Carla Bassanezi (Org). Fontes Históricas. São Paulo: Editora Contexto, 2005


COMO CITAR ESTE TEXTO:
Fonte: MELO, Alexandre. Revista(ndo) uma Cidade. Recife. Disponível em: http://cidadedosmelindres.blogspot.com.br Acesso em: dia mês ano. Ex: 07 mar. 2012. 


domingo, 3 de junho de 2012

A questão da pilosidade...

   A depilação ainda era tabu antes dos anos 1920... Entretanto a mídia brasileira já evidenciava os primeiros relatos de sobrancelhas feitas, que alguns estudiosos consideram  um ato considerado como um ritual de passagem da infância para a adolescência da garota. Ainda não se depilavam as partes íntimas, e poucas faziam as axilas. Alguns anos depois, tornava-se mais comum que as moças lixassem os pelos de suas pernas, dos tornozelos até abaixo dos joelhos.  Apenas em 1926 é lançada a navalha feminina no Brasil da marca Gillette,  de uso apropriado para a depilação da nuca, pernas e axilas. Até então em muitos lares as mocinhas se depilavam as escondidas com as navalhas dos pais ou irmãos. 

     A facilidade da depilação com o aparelho e o encurtamento das saias fez com que o patamar da depilação foi subindo, até se raspar os pelos de parte da coxa, local que ficava exposto ao se sentar e cruzar as pernas. Neste mesmo ano, em Recife, a revista A Pilhéria, de 12 de junho de 1926, publica a campanha publicitária do aparelho da referida marca. O ritual que envolvia a depilação, por ser tão íntimo, tornava-se quase um fetiche. 
Mais uma curiosidade dos anos 1920.

Alexandre Melo
Fonte: MELO, Alexandre. A Questão da Pilosidade. Recife. Disponível em: http://cidadedosmelindres.blogspot.com.br Acesso em: dia mês ano. Ex: 07 mar. 2012.

sábado, 2 de junho de 2012

A Contraparte da Melindrosa: O Almofadinha

       Uma figura também de extrema relevância no universo dos anos 1920 foi a do almofadinha.  Este ser andava pelas sombras das melindrosas, bem vestidos, com ternos engomados, eram estes os rapazes modernos, que aos poucos foram criando também um estilo próprio. Os almofadinhas lançavam olhares, cortejavam, atreviam-se a dançar os mais diversos estilos (coisa impensável a um homem comum da época) o momento da dança era a oportunidade ideal para um bom flirt com uma melindrosa.
      O termo “almofadinha” veio do habito de alguns homens do inicio do século, que ao viajarem sentados nos bondes de banco de madeira pela cidade, ficavam com as nádegas doendo por conta dos saltos causados pelos inúmeros buracos na estrada, passando então a trazerem consigo cada qual uma “almofadinha” de casa, para repousar o traseiro durante a viagem, evitando assim machucar sua poupança. A prática não foi tão bem vista por todos os homens. Tanto que a figura do almofadinha era por muitos considerada feminizada. Estes rapazes se barbeavam bem, e perfumavam-se, desenhavam seus bigodes pequenos, usavam calças mais apertadas e curtas. Os Almofadinhas eram constantemente ridicularizados nas charges de revistas da época, e estavam sempre à cola de alguma bela melindrosa.

Alexandre Melo

Fonte: MELO, Alexandre. A Contraparte das Melindrosas: Os Almofadinhas. Recife. Disponível em: http://cidadedosmelindres.blogspot.com.br Acesso em: dia mês ano. Ex: 07 mar. 2012.

Melindrando com as Melindrosas

     Ao fecharem-se as cortinas da I Guerra em 1918, no mundo ocidental, surgem figuras interessantes: Moças, com aparência de criança, maquiagem forte, com cabelos curtos e com as pernas à amostra. Respondiam pelo nome de “melindrosas”, pareciam meninas, agiam como mulheres, se portavam tal como os homens, mas não perdiam a feminilidade. Seres emblemáticos, andróginos e que demonstravam de maneira intensa a adesão de uma sociedade aos desígnios da modernidade capitalista.
    A história das melindrosas vem de além do Atlântico. Os países anglófonos às denominaram de flapper girls, que era uma expressão usada para definir as jovens que ainda não tinham alcançado a fase adulta, mas que se comportavam com se já as fossem, além de optarem por viver fora das convenções tradicionais. O modo flapper girl de ser surgiu, inicialmente, na Grã Bretanha e espalhou-se nos centros urbanos do ocidente, por meio da modernização dos meios de comunicação e de transportes. Na França, estas mulheres denominaram-se garçonnes, termo herdado do polêmico romance de Victor Margueritte, “La Garçonne” (No Brasil, "A Emancipada")
     Aqui em nossa terra, nasce a melindrosa, que faz sacudir a hierarquização dos sexos. Pertencentes às camadas médias urbanas, elas surgiram em vários centros do país. A melindrosa era a representação de uma jovem elegante, despreocupada e comumente frívola. O estilo importado viu-se intensificar com a fotografia nas revistas e o cinema, representações que contribuíram para espalhar esta tendência pelo globo.
    A figura era, em geral, construída de maneira muito semelhante: roupas e acessórios nas formas mais em voga, maquiagem precisamente aplicada e cabelos bem curtos. As flappers, desta forma, podem ser consideradas sinal eminente da forte influência cultural exercida da Europa para as Américas no início do século XX, símbolos da modernidade, marco dos anos 1920, sinônimo da rebeldia das garotas à antiga ditadura dos espartilhos, e representantes ainda, do sentimento do pós-guerra, onde a regra principal era viver cada instante intensamente. As cidades dos anos 1920 tornam-se desta forma o palco das melindrosas, uma nova configuração social, que desejava esquecer a destruição, buscando desenfreadamente por diversão, festas, e danças, que tornam-se o método inconscientemente usado para se recuperar o tempo perdido com a Guerra.

Alexandre Melo

Fonte: MELO, Alexandre. Melindrando com asMelindrosas. Recife. Disponível em: http://cidadedosmelindres.blogspot.com.br Acesso em: dia mês ano. Ex: 07 mar. 2012.